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Intervenção nas filas de espera é estratégia de comunicação em saúde

Ações de educação e comunicação em saúde são articuladas pelo projeto Prisões Livres de Tuberculose para difundir o conhecimento sobre TB no sistema prisional


A educação entre pares promove conhecimento a partir do diálogo sensível. Para isso, a metodologia utiliza pares representativos do mesmo grupo e/ ou status social a que pertencem o público-alvo. Com o diálogo entre semelhantes, ou seja, entre pares, o desenvolvimento das ações visa uma possível mudança de crenças ou atitudes.

No sistema prisional, a maior parte da população vive em situação de vulnerabilidade. Nesse sentido, a educação entre pares é utilizada como uma ferramenta de comunicação acessível, eficiente e dirigida aos familiares.

Por isso, o projeto TB Reach – iniciativa prévia do projeto “Prisões Livres de Tuberculose” – utilizou a educação entre pares como estratégia de comunicação nas filas de espera das unidades prisionais. A finalidade das ações era difundir o conhecimento sobre sintomas, formas de transmissão e tratamento de tuberculose no sistema prisional, que atualmente concentra 10,5% dos novos casos no Brasil.

Em 2016, o TB Reach realizou intervenções nas filas de espera junto ao Complexo Penitenciário de Gericinó, no Rio de Janeiro (RJ); na Cadeia Pública de Porto Alegre (PCPA) e na Penitenciária Modulada Estadual de Charqueadas, ambas no Rio Grande do Sul (RS).

“A intervenção nas filas foi excelente porque possibilitou que os familiares levassem informação à população privada de liberdade”, lembra Ana Carla Teixeira, que atuou como mobilizadora social do projeto TB Reach em Porto Alegre. Segundo ela, a estratégia de comunicação foi um dos maiores acertos do TB Reach. Isso porque a falta de informações sobre saúde em geral, e especificamente sobre TB e TB-HIV, são escassas entre os familiares e a população privada de liberdade.

“É um cenário comum quando se vive em extrema vulnerabilidade – seja por falta de afeto, violência doméstica, baixa renda ou dificuldade no acesso à saúde e à informação”, diz Ana. Nessa perspectiva, a tuberculose é o menor dos problemas para as famílias. “Elas estão tão sofridas de outras coisas que a saúde é a última coisa para se preocupar – a menos que alguém diga ‘ó, a tuberculose tem esses sintomas, pode ser grave, mas tem cura’. Aí a pessoa para pra pensar.”

Intervenção do TB Reach em fila de espera na Cadeia Pública de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul (RS)

Nesse sentido, a educação entre pares aproxima realidades, valoriza as experiências e empodera as pessoas através de informação em um processo de aprendizagem. “Quando a gente iniciava a abordagem, as pessoas mulheres – e eu digo mulheres porque são elas, em maioria, que vão nas visitas – nos olhavam com estranheza em um primeiro momento”, conta Ana.

​“Mas aí nos apresentamos, iniciamos a conversa e isso já quebra um gelo. Aí falamos dos sintomas, de transmissão e elas se abrem, dizendo ‘tive algo parecido, sei de quem passou por isso’”, diz. “Então podemos orientá-la para que converse sobre a tuberculose com o familiar, indicando que ele procure o agente de saúde da unidade.”

Nesse sentido, a educação entre pares aproxima realidades, valoriza as experiências e empodera as pessoas através de informação em um processo de aprendizagem. “Quando a gente iniciava a abordagem, as pessoas mulheres – e eu digo mulheres porque são elas, em maioria, que vão nas visitas – nos olhavam com estranheza em um primeiro momento”, conta Ana.

“Mas aí nos apresentamos, iniciamos a conversa e isso já quebra um gelo. Aí falamos dos sintomas, de transmissão e elas se abrem, dizendo ‘tive algo parecido, sei de quem passou por isso’”, diz. “Então podemos orientá-la para que converse sobre a tuberculose com o familiar, indicando que ele procure o agente de saúde da unidade.”


Educação entre pares transforma

Depois do êxito da experiência piloto, a estratégia de intervenção nas filas de espera com os familiares foi reforçada para o projeto Prisões Livres de Tuberculose – que vai atuar em todas as unidades federais entre 2019 e 2020. As intervenções serão realizadas em 75 unidades prisionais espalhadas pelo Brasil e deverão iniciar em maio.

Enquanto isso, as equipes locais já estão participando de atividades de alinhamento das ações de educação em saúde com o apoio e supervisão dos apoiadores institucionais. “As expectativas são as melhores possíveis. Temos uma equipe muito integrada e capacitada, da mesma forma que foi com o TB Reach. A diferença é que agora teremos mais tempo de trabalho”, explica Ana.

Para que os mobilizadores – pessoas com atuação prévia na área da saúde e/ou mobilização social – atuassem nas filas de espera, eles participaram de oficinas de capacitação com foco em qualificação e instrumentalização dos processos de trabalho na Fiocruz, em Brasília. “Foi uma grande troca de vivências que nos permitiu aprender um pouco mais sobre mobilização social, TB e sistema prisional”, afirma Rafael Sann, mobilizador social de Belo Horizonte, em Minas Gerais.

“Para mim, esse trabalho significa levar o SUS para uma das populações mais vulneráveis e invisíveis, que só conhece a parte cruel e excludente da sociedade. Vamos fazer isso com informações repassadas de forma lúdicas, assim, iremos com certeza ajudar a acelerar a redução da TB e das IST’s na população privada de liberdade e entre seus familiares.”

É unanimidade, aliás, a ideia de que a mobilização social para as intervenções nas filas de espera constitui uma experiência única de troca. “As pessoas tem a ideia que quando se está privado de liberdade não se tem mais direito. Da mesma forma, as mulheres que ficam ali na fila também não são vistas com bons olhos. Então quando desempenhamos esse trabalho, contribuindo com uma pessoa que está em uma situação vulnerável, é muito gratificante”, resume Ana, de Porto Alegre.

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