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Adesão ao tratamento é fundamental para a cura da tuberculose

Interrupções e abandono, por outro lado, aumentam a resistência da bactéria, que se torna cada vez mais forte e letal ao organismo


João* abandonou o tratamento para tuberculose (TB) duas vezes. A cada desistência, a doença se tornava mais potente – tanto que, na terceira tentativa, os medicamentos deixaram de fazer efeito. A tuberculose drogarresistente (TBDR) acontece quando as bactérias ganham força e se tornam imunes à medicação. O quadro do paciente se agrava, diminuindo as chances de cura e prolongando o tempo de tratamento.


Debilitado e com cavidades nos pulmões, João precisou encarar um esquema de tratamento a base de medicamentos mais fortes. O tempo de tratamento, que poderia ter sido de seis meses, se estendeu para um ano e meio.


Em geral, as pessoas abandonam o tratamento por três motivos: falta de orientação, melhora dos sintomas e dificuldade financeira. “Quando a pessoa que vai iniciar o tratamento não recebe as instruções adequadas nem se sente acolhido na unidade de saúde tem mais chances de desistir no meio do percurso”, explica a enfermeira sanitarista Marneili Martins. “O acolhimento é uma conduta que deve valorizar a pessoa em tratamento e sua realidade, não apenas lhe indicar regras: é preciso que os profissionais saibam ouvir.”


O fortalecimento do vínculo entre usuário e profissional da rede de saúde pode fortalecer o tratamento, mas não é uma garantia por si só. “As vulnerabilidades socioeconômicas também precisam ser consideradas”, diz Marneili, que atua no Núcleo de Vigilância em Saúde da Região Metropolitana do Estado do Rio de Janeiro (SES/RJ). “Muitos não tem dinheiro pra pagar a passagem até a unidade e não tem como sustentar uma boa alimentação, que é fundamental para o sucesso terapêutico.”


O tratamento para tuberculose não é exatamente fácil, mas necessário. A doença é altamente curável, apesar disso, mais de 4.500 mil pessoas morrem todos os dias por falta ou abandono de tratamento, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS). O caso de João não teve esse desfecho, mas chegou perto.


Mesmo após encarar um tratamento agressivo, por conta do histórico de abandonos, ele desenvolveu aquilo que a medicina chama TB-XDR: um caso de tuberculose extensivamente drogarresistente. A TB-XDR é a variação mais mortal da tuberculose e seu tratamento envolve a combinação de quatro famílias de antibióticos. Nem sempre as pessoas que tratam esse tipo de TB chegam à cura.


No caso de João, a evolução para um quadro tão crítico poderia ter sido evitada com a completa adesão ao tratamento nas primeiras tentativas, quando as bactérias da tuberculose ainda eram sensíveis aos medicamentos. Por conta dos abandonos anteriores, ele teve que encarar um processo ainda mais difícil. Não por acaso, desenvolveu depressão.


Diante da gravidade da situação, acabou aderindo ao tratamento mesmo com as dificuldades (não raro, as medicações provocam enjoo, tonturas e perda de apetite). Foram necessários quatro anos de tratamento para TB-XDR até que ele fosse considerado curado. Atualmente, João faz acompanhamento de forma regular na unidade de saúde e permanece

negativo para TB.


O processo de adesão e conclusão do tratamento é o único caminho para que uma pessoa fique livre da tuberculose. A cura, necessário lembrar, não se dá pela melhora dos sintomas, mas somente após avaliação médica e confirmação laboratorial. Do contrário, a tuberculose pode permanecer algum tempo adormecida e voltar ainda mais forte, aumentando o tempo de tratamento e dificultando a cura completa.



*Nome fictício para preservar a identidade do paciente.


 

Dicas de conduta humanizada para profissionais de saúde



  • Converse com a pessoa que vai iniciar tratamento

Ela precisa de informações sobre a doença e seu estado de saúde. Explique os primeiros passos do tratamento, a necessidade de ingerir o medicamento diariamente, os efeitos colaterais etc. Explique sobre o fim da transmissibilidade após 15 dias de tratamento correto e a importância do convívio social e apoio de amigos e familiares. Lembre-se que, sem informação, ela estará mais suscetível a cometer falhas durante o processo.


  • Pratique o bom acolhimento

Olhar o paciente nos olhos e chamá-lo pelo nome são atitudes simples que proporcionam sensação de pertencimento. Sem o acolhimento adequado, ele terá receio de tirar dúvidas ou pedir ajuda, deixando, muitas vezes, de retornar à unidade de saúde definitivamente.


  • Identifique fragilidades – e crie estratégias de resolução

Muitas pessoas vão apresentar dificuldades de origem social ou financeira (não têm residência fixa, documentos ou condições de ir à unidade de saúde durante o período estipulado pela equipe de saúde). Por isso, descubra quais são as possíveis dificuldades que as pessoas em tratamento poderão enfrentar e crie estratégias para resolver esses problemas, na medida do possível, com respeito e bom senso.


 

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